domingo, 27 de dezembro de 2009

VOLUME 1 - 2ª PARTE


As experiências vieram, os fatos sucederam-se e as evidências surgiram. Desde então, minha vida tomou um novo rumo e é exatamente isso o que tento contar a você.

Lembro-me do dia, ou melhor, da tarde em que a primeira experiência me tomou. Não é comum eu dormir nem mesmo tirar soneca após o almoço. Mas no início das férias de julho de 2004, por algum motivo que não consigo precisar, adormeci enquanto assistia a um filme com minha irmã Saline. Estávamos na sala e, naquela rede, eu passei por um momento inusitado para mim até então.

Fechei os olhos e logo me vi abrindo-os. A tentativa de mover-me foi em vão. Falar também não foi possível. No entanto, eu conseguia escutar o fluir da água que caía na caixa do banheiro. Era um barulho estranho, soava meio disforme, mas reconheci o que parecia ser ou pelo menos de onde vinha.

Foi rápido. De repente, acordei e me perguntei se não era um simples sonho ou mesmo pesadelo. Fiquei encucada com aquilo, porém não relatei a ninguém o ocorrido.

Alguns dias depois, sonhei à noite que flutuava sobre meu corpo que estava lá embaixo sobre a cama. Pense no meu desespero! Queria voltar para a cama e o esforço foi inútil. Novamente acordei num piscar de olhos.

Apenas quando retornei às aulas em agosto e encontrei a nova professora de Ciências, foi que as coisas começaram a ficar claras para mim. Gisele era natural de Fortaleza e assumiu por dois meses a disciplina que seu irmão Paulo nos ministrava. Ela encontrava-se sem exercer nenhuma atividade na capital porque pertencia a uma entidade filantrópica cujo trabalho era voluntário, mas dispos-se (...)

Era o período do recreio num final de agosto. Passei pela salinha da biblioteca e encontrei minha amiga Samara lendo um livro da Cecília Meireles. Tratava-se de poesia,algo para o qual nunca tive muita preferência. Fiquei porém fascinada desde aquela dia ao ler alguns trabalhos daquela poetisa moderna.

Levantei-me da mesa onde estávamos e procurei alguma outra obra dela na nossa pobre bilbioteca da Várzea da Conceição. Ao aproximar-me da estante, ouvi Gisele conversando com uma outra professora, Ângela, que dava aulas de português à oitava série.

- Este livro, minha cara, é uma jóia rara. Você terá esclarecimento quanto a estes seus sonhos esquisitos.

- Prometo devolver logo, Gisele. Afinal, vou ler o mais rápido que puder para compreender por que fiquei flutuando no meu quarto durante quase duas semanas.

Aquilo me atingiu em cheio. A força da lembrança e do choque que tive ao viver a experiência não me deixaram sossegar até encontrar uma oportunidade de falar com a professora Gisele.

Logo no outro dia, antes de entrar em nossa aula, fui direto ao assunto:

- Professora Gisele, eu tenho algo para lhe perguntar.

- Sim, Suliane.

- Sonhar flutuando sobre o corpo enquanto se dorme é normal?

Ela me fitou com olhos argutos por alguns instantes como se estivesse sondando o que iria falar e finalmente respondeu:

- Parece ser mais comum do que se imagina. Mas quem está tendo sonhos assim?

- Eh... Eu tive há umas semanas atrás.(...)
* * *
© 2009 Marcos Aurélio da Silva Costa
Direitos reservados pela Editora Campus Celestium.
Fortaleza – CE

Nenhum comentário:

Postar um comentário