As experiências vieram, os fatos sucederam-se e as evidências surgiram. Desde então, minha vida tomou um novo rumo e é exatamente isso o que tento contar a você.
Lembro-me do dia, ou melhor, da tarde em que a primeira experiência me tomou. Não é comum eu dormir nem mesmo tirar soneca após o almoço. Mas no início das férias de julho de 2004, por algum motivo que não consigo precisar, adormeci enquanto assistia a um filme com minha irmã Saline. Estávamos na sala e, naquela rede, eu passei por um momento inusitado para mim até então.
Fechei os olhos e logo me vi abrindo-os. A tentativa de mover-me foi em vão. Falar também não foi possível. No entanto, eu conseguia escutar o fluir da água que caía na caixa do banheiro. Era um barulho estranho, soava meio disforme, mas reconheci o que parecia ser ou pelo menos de onde vinha.
Foi rápido. De repente, acordei e me perguntei se não era um simples sonho ou mesmo pesadelo. Fiquei encucada com aquilo, porém não relatei a ninguém o ocorrido.
Alguns dias depois, sonhei à noite que flutuava sobre meu corpo que estava lá embaixo sobre a cama. Pense no meu desespero! Queria voltar para a cama e o esforço foi inútil. Novamente acordei num piscar de olhos.
Apenas quando retornei às aulas em agosto e encontrei a nova professora de Ciências, foi que as coisas começaram a ficar claras para mim. Gisele era natural de Fortaleza e assumiu por dois meses a disciplina que seu irmão Paulo nos ministrava. Ela encontrava-se sem exercer nenhuma atividade na capital porque pertencia a uma entidade filantrópica cujo trabalho era voluntário, mas dispos-se (...)
Era o período do recreio num final de agosto. Passei pela salinha da biblioteca e encontrei minha amiga Samara lendo um livro da Cecília Meireles. Tratava-se de poesia,algo para o qual nunca tive muita preferência. Fiquei porém fascinada desde aquela dia ao ler alguns trabalhos daquela poetisa moderna.
Levantei-me da mesa onde estávamos e procurei alguma outra obra dela na nossa pobre bilbioteca da Várzea da Conceição. Ao aproximar-me da estante, ouvi Gisele conversando com uma outra professora, Ângela, que dava aulas de português à oitava série.
- Este livro, minha cara, é uma jóia rara. Você terá esclarecimento quanto a estes seus sonhos esquisitos.
- Prometo devolver logo, Gisele. Afinal, vou ler o mais rápido que puder para compreender por que fiquei flutuando no meu quarto durante quase duas semanas.
Aquilo me atingiu em cheio. A força da lembrança e do choque que tive ao viver a experiência não me deixaram sossegar até encontrar uma oportunidade de falar com a professora Gisele.
Logo no outro dia, antes de entrar em nossa aula, fui direto ao assunto:
- Professora Gisele, eu tenho algo para lhe perguntar.
- Sim, Suliane.
- Sonhar flutuando sobre o corpo enquanto se dorme é normal?
Ela me fitou com olhos argutos por alguns instantes como se estivesse sondando o que iria falar e finalmente respondeu:
- Parece ser mais comum do que se imagina. Mas quem está tendo sonhos assim?
- Eh... Eu tive há umas semanas atrás.(...)
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© 2009 Marcos Aurélio da Silva Costa
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Fortaleza – CE